Ela era a que nunca foi.
A que nunca gostaria de ter sido
É que soprou a ventania
E carregou-a nos braços.
Caminhos incertos
E passos trôpegos,
sempre tão certos.
Complexa e descabida.
Perplexa ela
diante de algumas coisas
do vasto mundo nunca seu.
E ainda:
do vasto mundo seu
e das tantas coisas
que não compreende e nem quer.
E das tantas coisas
que não compreende e ainda busca(se)
... Incansavelmente.
E ora chora, ora rir-se de si mesma
por não caber em circunstâncias
e por não querer mesmo caber.
E tem subido íngreme solitude
naquilo que nunca conseguiu ser:
mas que sempre gostaria de ter sido.

… Ainda sopra a mesma ventania...
Mas ouço dizer
Que ela caminha com passos firmes
Sobretudo, sobre tudo o que foi.
E ainda no que é.
E anda a renascer na relva verdinha
De toda a sua criação.
E à espera paciente
de toda a aurora sua.

Karla Mello
03 de Abril de 2016