Karla Mello

Amar pode ser poço... Amar nunca será vão.

.. Escreve a Florbela Espanca .. "Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver e que nunca na vida me encontrou"
Textos

come-dores de gentes!
ando eu meio menina…
nas horas em que penso eu nas mãos tuas…
a alinharem os tantos cabelos meus.
ando eu meio menina…
e o nariz sempre a sungar as saudades tuas…
de algum lugar que não sei eu onde…
de um tempo que não sei eu onde buscar…
de um cheiro de trabalho…
que vinha sempre a caminhar impregnado contigo.
ando eu meio menina…
a fazer reflexões sobre os desenhos todos das nuvens do meu céu.
a contar estrelas e chorar quando não vejo o nosso cruzeiro do sul.
a ursa maior farta-se de rir de mim!
sim! posso vê-la a caçoar de mim!
e acho muita graça… se queres saber.

ando eu meio menina tua…
a desculpar-te sempre… mesmo quando não pedes desculpas… sempre.
a encontrar justificativas à todas as desculpas que nunca pediste… nunca.
a imaginar-me em teu colo… aconchego meu de outrora…
das vezes que esperava-te eu para terminar a comida maçante.
eu sempre acreditei ser uma grande perda de tempo o ato de comer comida.
sempre preferi comer gentes… com pensamento e tudo!
gentes trazem-nos ensinamentos!
e têm os sabores que nós quisermos dar!
e vinhas tu com a colher cheia de comida… impaciente e em minha direcção…
mas no fundo… sei que rias-te de mim!
porque sei que sabes o quanto é maçante comer comida.
também gostas tu de comer gentes com pensamentos e tudo!

ando eu meio menina nua…
despida dos conceitos todos que formei eu sobre ti.
não os quero mais… não me servem de coisa alguma!
quero mesmo é olhar-te nos olhos que despedem-se…
e perceber o amor… a tua forma incongruente de amar-me…
de jogar-me na vida e, ao mesmo tempo, prender-me.
haja que ao me jogares tu… na vida!
fizeste-me muro… sempre de pé!
mas não esqueceste tu de plantar-me as eras… com ternura…
e elas espalham-se em versos!
é onde as borboletas tantas pousam de quando em vez.
e trazem-me notícias tuas… do teu novo silêncio…

ando eu meio menina… na rua.
da amargura que é pensar em nunca mais poder ser a menina tua…
e que vou desacertar passos pela vida sem ter-te… sem o teu desajeitado colo.
colo… porto… comedor de gentes com pensamentos e tudo!
ando eu meio menina… sempre.
a comer gentes… com pensamentos e tudo!

“decifro-te… ou me devoras”.

Karla Mello
19 de novembro de 2013
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 20/11/2013
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