come-dores de gentes!
ando eu meio menina…
nas horas em que penso eu nas mãos tuas… a alinharem os tantos cabelos meus. ando eu meio menina… e o nariz sempre a sungar as saudades tuas… de algum lugar que não sei eu onde… de um tempo que não sei eu onde buscar… de um cheiro de trabalho… que vinha sempre a caminhar impregnado contigo. ando eu meio menina… a fazer reflexões sobre os desenhos todos das nuvens do meu céu. a contar estrelas e chorar quando não vejo o nosso cruzeiro do sul. a ursa maior farta-se de rir de mim! sim! posso vê-la a caçoar de mim! e acho muita graça… se queres saber. ando eu meio menina tua… a desculpar-te sempre… mesmo quando não pedes desculpas… sempre. a encontrar justificativas à todas as desculpas que nunca pediste… nunca. a imaginar-me em teu colo… aconchego meu de outrora… das vezes que esperava-te eu para terminar a comida maçante. eu sempre acreditei ser uma grande perda de tempo o ato de comer comida. sempre preferi comer gentes… com pensamento e tudo! gentes trazem-nos ensinamentos! e têm os sabores que nós quisermos dar! e vinhas tu com a colher cheia de comida… impaciente e em minha direcção… mas no fundo… sei que rias-te de mim! porque sei que sabes o quanto é maçante comer comida. também gostas tu de comer gentes com pensamentos e tudo! ando eu meio menina nua… despida dos conceitos todos que formei eu sobre ti. não os quero mais… não me servem de coisa alguma! quero mesmo é olhar-te nos olhos que despedem-se… e perceber o amor… a tua forma incongruente de amar-me… de jogar-me na vida e, ao mesmo tempo, prender-me. haja que ao me jogares tu… na vida! fizeste-me muro… sempre de pé! mas não esqueceste tu de plantar-me as eras… com ternura… e elas espalham-se em versos! é onde as borboletas tantas pousam de quando em vez. e trazem-me notícias tuas… do teu novo silêncio… ando eu meio menina… na rua. da amargura que é pensar em nunca mais poder ser a menina tua… e que vou desacertar passos pela vida sem ter-te… sem o teu desajeitado colo. colo… porto… comedor de gentes com pensamentos e tudo! ando eu meio menina… sempre. a comer gentes… com pensamentos e tudo! “decifro-te… ou me devoras”. Karla Mello 19 de novembro de 2013
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 20/11/2013
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