o chão onde piso eu tem ficado quente demais...
sinto saudades dos teus abraços sombra fresca de descansar...
onde a minha inquietude vasta...
delimita espaços apenas nos braços teus.
sinto saudades dos beijos de chegada...
chegada dos cinco ou dez minutos distantes... eu e tu.
andei pensando... no espaço geográfico da nossa casa...
é exatamente do tamanho que necessitamos eu e tu...
pois o que faria eu do cotidiano espaçoso demais?
andei pensando ainda no espaço imensidão que há...
na respiração individual nossa...
no nosso respeito mútuo às nossas existências tão diferentes.
somos únicos e somos dois.
mas sabemos ser um só.
sinto saudades do teu respeito ao meu silêncio...
à minha solidão necessária e escolhida de quando em vez...
e sinto saudades de observar-te de longe...
no teu silêncio necessário a ti...
e fazes carinha de criança...
e mexes os dedos das mãos.
sinto saudades do tempo frio lá fora...
da beleza que é contemplar a nossa janela embaçada...
e dos tantos invernos nossos...
e que é fundo de pano à solidão de família que sentimos juntos nós dois.
sinto saudades do aperto da nossa cozinha...
pois neste apertado espaço... com panelas à fumegar...
roubas-me tu muitos beijos com cheiro de banho.
sinto saudades de tudo o que é nosso...
sinto saudades tuas...
sinto saudades do que sou eu...
quando contigo estou eu.
e o chão que piso eu... está ficando quente demais...
sinto saudades das tuas sombras da paz minha...
que invadem-me a minh'alma sempre melancólica
nos dias quentes demais à mim...
para dentro de mim...
e orvalham-se sobre mim
e iluminam-me...
todos os sorrisos teus.

Karla Mello
24 de Outubro de 2013

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