Do meu vestido solidão
Temos nós os dois duas solidões...
Sozinhas... tão sozinhas... Há um muro tristonho que as separa. Muruniversos tão diferentes... E elas choram pela impossibilidade do nunca encontro. E elas choram cotidianamente... No rápido encontro e desencontro... Que dá-se quando cruzam-se... Perpassam-se... por cima do muro tristonho. E cumprimentam-se... Acenam lencinhos de despedida... No dado momento do quase encontro... Perpassam-se... E lamentam tanto... E choram juntas e separadas a impossibilidade do afago. Nenhuma solidão toca a outra. Mas sabem-se bem... Conhecem-se como se uma estivesse sempre dentro da outra. Há quem as ouça o lamento... E dizem que não se ouve nada tão profundamente triste. Outros dizem que nada se ouve... E que não se sabe do que realmente houve. Apenas a solidão. Em dueto. Desencontrado. A solidão tem o eco dos “infernos”... Pode ainda ter o barulhinho dos “invernos”... Mas as nossas duas... a minha solidão e a tua... Nunca encontrar-se-ão. Uns dizem que a escolhemos... Outros dizem que é castigo de Deus... maldição. Da tua... não posso muito falar. Da minha... ela tem a cor do silêncio que tenta balbuciar... Que tenta versejar... E chora!... Chora sempre!... Mesmo quando não veste as vestes do hoje... Vestido “evasé” bem costurado... Bem engomado... perto do “desequilibrado”. Por alfaiates vindos dos “infernos” e invernos nossos. Alguns o acham até “démodé”... Este! Mas sempre fui de vanguarda. E anda solidão a arrastar os pés... Mas não traz hoje... o barulhinho dos “invernos” meus. Mas molha-me a face... do adeus que eu não quero dar. Alguem já te falou um dia... Que eu não suporto as vestes e risadas da tua solidão? Ela é feia... falsa... mal ensaiada. Um corte “démodé”. A minha... prefere não vestir nada. Só hoje. A minha... prefere não sorrir nunca. Karla Mello 27 de Setembro de 2013
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 27/09/2013
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