Karla Mello

Amar pode ser poço... Amar nunca será vão.

.. Escreve a Florbela Espanca .. "Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver e que nunca na vida me encontrou"
Textos

Asas de Mágoas
Não sou nenhum anjo…
Essas asas que vês?
São asas das mágoas todas… minhas…
Juntei pena por pena…
E paguei-as todas!
E com elas…
Aprendi a voar!
Não devo a ti coisa alguma…
Aliás… Devo sim!
Esse meu mau jeito de sentar-me na vida!
E de gargalhar diante dos meus medos todos!
Devo a ti o traço e o tom.
Sem o regaço do teu colo…
Este? … Ficou lá atrás…
Nas fotografias.
Tento equacionar entre o mau jeito e o regaço pouco:
Não sobra tanto assim.
Algo de bom… Palpável, percebes?
Escapa-me como água do regato que busco sempre.
Refresco-me e banho-me a minha face cansada
No regato que formam as lágrimas todas… Tantas!

Cansada… Tu me cansas!
Canso-me de chorar o que nunca teria jeito algum!
Porque senta-te de mau jeito em tudo!
E também eu sento-me!
E não assentamos nada uma com o outro.

Não… Nem sempre vôo longe.
As asas pesam-me… Duras penas!
Difícil demais pousar à tua volta… De volta.
Pois que estás sempre tão mal acompanhado!
E estas asas enormes que tens!
Das tantas penas alheias!
Tu as causaste!
E ainda as tuas duras penas!
E coleciona-as… E são os teus troféus!
Qualquer coisa assim que eu não compreendo...
Escapa-me! …
Escapa-me do meu entendimento!
Eu quero apenas alguma coisa que valha!
Um resto de ternura… Um afago!
Quero muito pousar em ti…
Mas ouço as tuas risadas na tua antessala!
E olho-te de soslaio e continuas mal sentado!
Ao chão! Estás ao chão!
E não queres levantar-te.

Não sou nenhum anjo…
Não tenho qualquer vocação para anjo!
Mas posso balançar as minhas asas de mágoas!
Penas cumpridas! Todas!
E fazer ventania de amores sobre as tuas dores.
E arriscar mais uma vez a pedir-te o regaço do teu colo…
Ando mesmo assim… Sem vergonha!
Sem tempo para isso!
Sem tempo para quase mais nada.
Sem tempo para remontar as penas...
Para que fossem alvinhas… E leves como o algodão!
Nuvenzinhas!...
Mas sempre chove muito… Torrencialmente!
Em nosso grande quintal de outrora...
Em nosso pouco quintal de agora.

Karla Mello
05 de Setembro de 2013
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 05/09/2013
Alterado em 20/02/2015
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