Centelhas de luz
E procuro eu mantê-los ao chão
Os meus pés viajantes tolos. E trago-os sempre descalços... Trôpegos sobre o colo gentil da Mãe Terra. E banho-os eu Do cansaço que é viver Nas generosas lágrimas tuas, Mãe Terra... Águas de riachinhos e chuva fresca. E tenho andado a coser uma âncora e correntinha... Com os cascalhos que encontro eu Misturados aos dourados raios de sol meus E coso aos retalhinhos velhos - vida minha E enfeitarei os meus pés-barquinho! Que gosta de calmaria E do silêncio do mar. E de estar sempre à deriva... Do não saber donde vem O tapa ingrato ou o beijo que cura. Do estar certo de que não quer ele chegar A lugar nenhum, nenhum. Então mantenho eu a cabeça E os pensamentos todos Pertinho do vento brincalhão... ao alto! Que sopra e balança as nuvens gordinhas! Que contam-me histórias e fazem-me sorrir! E deito-me a cabeça no colo da lua... Lua enganadora dos infernos meus. E sou quase criança e acredito em tudo... E passo eu a aceitar tudo... límpida... Tal as lágrimas riachinhos e chuvas Da doce Mãe Terra minha. Posso eu ainda beijar e tocar as estrelas! E enfeitar, com elas, os meus cabelos! E enfeitar, com elas, o meu olhar! E posso ainda comê-las! E chorar centelhas de luz! E iluminar... Esse obscuro ser frágil e trépido de mim. Karla Mello 23 de outubro de 2012
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 24/10/2012
Alterado em 24/10/2012 Copyright © 2012. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |