Cotidiano Cais
Queria não precisar de ti
Nem da minha história e nem de mim. Queria, neste momento, poder voar E encontrar a minha avó e a minha mãe. Corremos até o cais apressados e malas pesadas de sonhos bons Mas… Perdemos o navio. Nos atrasamos e ficamos no quotidiano cais. Ah… É um caos! Há momentos em que a ventania desacomoda as “sujeiras” E eu preferia a âncora daquele navio do que esta: Que finca-me a ti. Ainda tenho malas prontas e sonhos amarelados... Guardados de tanto esperar o que não vem. Sonhos e bolor e cheiro de saudades guardados na mala. A saudade tem cheiro e gosto de lágrima E eu posso abrir a mala se quiseres comigo sentir. Gostaria de “desabraçar” algumas pessoas em que acreditei E “reabraçar” uns poucos de verdade e com verdade. Queria também uns abraços “novos” e repletos de créditos. Queria poder ter nascido como sou hoje E não ter o beijo gasto, Mas também, de certo, não poderia ser casto. Não conhecemos tudo sempre, Mas a juventude... E eu não sou “santa” e sou viva. Gosto de aventurar-me ao amor e vivo de malas prontas. Não acomodo-me ao que aperta-me. E seria um descaso comigo mesma! De vez em quando, vou ao cais… Mas nunca mais vi aquele navio. Queria desdizer palavras malditas minhas E morrer delas todas! As que eu disse sem pensar! Seria um excelente veneno à mim mesma... A saber o quanto é sábio o silêncio. Queria “desabortar” atitudes e fazê-las germinar o amor. Isso é o que eu mais queria. Há algumas pessoas que parecem “hienas” E portam-se à nossa espreita a sorrir esperando a nossa “morte” E rondam cinicamente e fazendo “cara de doninha". De fato não tenho nada contra as hienas E as doninhas são lindas demais. Andei pondo os óculos e as minha mãos: Sêcas e há marcas que não havia ontem e ainda na face. Preciso de um hidratante e os meus olhos já são hidrantes. Mas pinto-os de marrom. Não gosto do comum hidrante vermelho. Basta-me apenas um hidratante. Respiro… Hidratante e batom. Lápis de olho à prova d’água e rimel também. E não esqueço o sorriso… Mas nada cínico, por favor. O máximo que eu posso suportar é o "congelado de fotografia". Por vezes, apenas uma questão de necessidade... Assim, de caber no mundo. Há dias em que eu não gosto de caber em nada E está tudo bem então. Hoje ainda é segunda-feira e já sinto-me tão cansada… Mas ainda posso subir… Naquele navio. Karla Mello Dezembro de 2011
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 20/12/2011
Alterado em 20/02/2015 Copyright © 2011. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |