Karla Mello

Amar pode ser poço... Amar nunca será vão.

.. Escreve a Florbela Espanca .. "Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver e que nunca na vida me encontrou"
Textos

Te Conto Sobre
Encontrei-a em seu quarto, no silêncio e muito lúcida.
Ela afirma que é barulhenta e gosta de sorrir quando está tolamente feliz.
Porque tolamente feliz é quando a sua mente desprende-se do ser...
E a conduz ao pé de carambola de sua infância.. à casa de sua avó.
Conta ela que é assim que ela consegue sorrir com verdade..
E abraçar as gentes...
Como era abraçada pelo vento, lá no olho do pé de carambolas da casa de sua avó.
Ela também guarda o abraço de sua avó.. Diz que aprendeu a abraçar com ela.

"- Faz tempo... Mas este momento é retido e estancado na minha mente.
Assim... Como uma fotografia que nunca desbota."

... Contou-me ela, ao olhar um passarinho que ela muito gosta..
E que a faz companhia em três vezes por dia, no parapeito da sua janela.
Escutei-a falar sobre no que ela tem estado atenta ultimamente.
Ela diz que tem estado atenta ao que está para muito além
Do que os seus olhos podem ver...
Ou do que suas mãos podem tocar...
Está atenta às dores que grita o mundo
E diz ainda que é meio bicho.
Já foi bicho acuado.. Agora diz ser bicho liberto, com um Único dono.
Contou-me ela ainda dos detalhes que vem observando à sua volta...
Nos bosques.. Entre a relva .. Na fresta da cortina da vida.
- Disto que os humanos gostam de chamar de vida -
Da janela.. Mira ela o céu e um monte alto ao longe.
Contou-me ela que hoje o nevoeiro estava muito belo pela manhã.
Combinava com a sua noite bem dormida que faz tempo, não conseguia.
E deu uma abraço no passarinho... Que despedia-se, da sua janela.

Dorme pouco e come pouco. E gosta pouco de água.
E gosta da noite... E ama a Luz... E não fala muito sobre ela mesma.
Somente para muito poucos... Para os que ela encontra regaço ao seu cansaço.
Aprendeu a gostar de gente faz pouco tempo.

Hoje eu vim visitá-la e gostei do que vi:
Ela aprendeu a gostar de gente...
E não apenas das dores das gentes...
Das dores das gentes, ela sempre gostou.
Hoje eu vim visitá-la e gostei do vi:
Ela é toda ela mesma e aprendeu a gostar de si.
Os quartos estavam todos abertos, limpos e arejados.
Muita Luz... Muita Luz...

"- Somente Nele eu posso Viver."

Abracei-a .. Ela sorriu-me .. E estava mesmo muito lúcida.
Olhei de soslaio para acenar um adeus à janela.
Mas não estavam mais na janela:
Nem o passarinho amigo... E nem ela.

.. de repente, lá de baixo, eu vi...
brotaram muitas flores da sua janela.

Karla Mello
18 de Setembro de 2017
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 18/09/2017
Alterado em 02/11/2022
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