Uma Certa Madalena
caçoar
humilhar derrubar despir abandonar usurpar violar apedrejar sulgar o pouco mel da despetalada flor dos campos ressecados dos instantes seus onde os pés seus largavam-se e despediam-se do seu viver parco e rasgava-se o chão. e procurou uma estendida humana mão. quase louca e só e escolheu o equivocadoo "eu" o apressado, o impensado, o desprovido. a mendigar proteção um lufar de ar brisa fresca nas janelas sujas suas... da alma lama sua. e ainda assim a subjulgação sabia bem gostar. lama, alma, lama a minha. doente e exposta aos julgamentos alheios aos escárnios e já nem inportava-se mais. cansar é quase desistir é quase despedir-se de si por um fio tênue à escuridão. luz! quero luz! levantou-se ela humilhada, pranteou e vestiu-se de si mesma. das sobras lixo. de onde já era loucura presa nas mandíbulas dos infernos todos. luz! grandiosa é a luz! levantou-a abraçou-a e não havia mais ninguém à julgá-la à sua volta. e era ele e eu numa noite onde só a lua pôde assistir e sorrir .. eu nunca mais tinha visto um sorriso .. e adormece ainda ela até hoje, criança sua, flor dos seus campos verdinhos, no seu amoroso regaço do sangue vertido e escarnecido e o corpo seu em pedaços. e quando ela cai ele a levanta. e quando ela chora, pede a ele para colocar-lhe no braço. e o seu abraço e colo é o único lugar onde ela pode ser ela mesma sem histórias apagadas. com histórias construídas. e sentir-se ainda tão amada. o seu abraço e colo é a sua mais perfeita paz e morada. Karla Mello 23 de junho de 2016
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 03/11/2016
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