Eu não tenho boas lembranças do Natal da minha infância.
Minha mãe era uma "maria", mãe de quatro criancinhas.
Da Maria tinha ela algum feitio...
Principalmente a doçura, o silêncio e as lágrimas.
Por nós, seus inocentes menininhos...
Por ela mesma, quem saberá.
A nossa arvorezinha estava sempre acesa...
Mas o presente mais precioso,
Sempre demorava a chegar...
Ou não chegava... ou vinha apenas de mentirinha.
Eu... queria apenas um colarzinho de proteção.
Mas eu tinha a minha "maria"... a minha doce "maria".
A minha "maria" trazia no bolso um terço e a fé.
E sorrisos nos lábios que desfaziam, por vezes, o seu olhar.
Sempre olhei para os olhos da minha "maria".
Não eram olhos felizes... não eram.
Apenas quando olhavam para nós.
E o Menino Jesus sempre esteve conosco...
A minha "maria" trazia sempre Ele a nós.
E Ele nos aquietava... e nos "abraçava" com a ternura Sua.

Nunca mais vi o sorriso da minha "maria".
Nunca mais contemplei o seu olhar triste, mãe dos versos meus.
Mas todas as vezes em que armo eu a arvorezinha do meu lar...
Não tenho comigo o Presépio apenas... E ele é mesmo sublime.
Mas tenho ainda o sorriso da minha "maria".
E o seu olhar triste resplandesce e conduz-me...
A tudo o que ensinou-me...
E é estrela no alto da minha árvore!
E anuncia à mim... sempre...
Que o Menino Jesus da minha infância
Continuará sempre comigo.
E aquieta-me... E "abraça-me".

Karla Mello
18 de Dezembro de 2012