Ensina-me, Senhor, a deixar os meus filhos "voarem"...
Mesmo que perca eu, assim, as asas minhas.
Só consigo voar em bando... eles levam-me pela mão!
E sou criança, então!
E nos misturamos tanto que nem sei quem somos!
Somos simplesmente! Sou feliz e ponto!
Já na vida... tão reticente eu. E ela!
Corta-me deles esse "cordão"...
Não quero eu machucá-los por tanto amá-los.
Faze com que perceba eu que eles cresceram!
Os meus olhos teimam em enchergá-los meninos meus!
E a minha vida só é vivida nos instantes em que com eles estou.
Sobrevivo... sobre-vivo... suspendo a vida!
Suspensa no ar, nas asas do tempo...
Da ausência deles nos dias meus. E faz tanto tempo...
E já andei tanto sem a minha paz - eles!
Afasta de mim essa dor...
Que é viver um dia após o outro,
O cansaço da ausência do cheiro dos filhos meus.
Procuro-os no ar... farejo-os!
E encontro um pouco deles espalhadinho...
Na boca do bebê cachorrinho,
Cheiro de leite e de "preciso de ti".
No olhar deles para mim.
Na leveza do pouso da borboleta,
Na chuva que molha o meu rosto - lágrimas de criancinhas!
No sol que brilha sobre mim - luz dos olhares seus!
Na lua! Ponto de encontro nosso nas noites distantes!
Nos cantos dos passarinhos! Têm cheiro sim!
Tem cheiro da liberdade que lhos quero dar e tenho que dar!
Arranca-me daqui essa ausência...
Eis que mata-me aos poucos e tira-me o gosto de viver.
Se é que já tive eu, um dia, o gosto pela vida.
Lembro-me apenas do gosto das flores-sementes...
Eles vivos dentro de mim... Eis quando vivi!
Ensina-me a viver, Senhor,
E apenas vê-los passar lindamente pela vida.
E, mesmo que ninguém os ovacionem... ovaciono-os eu!
Ensina-me, então, no depois...
A retornar eu ao meu cantinho de hoje...
E continuar a admirá-los e vê-los passar pela vida.
Ensina-me, Senhor... ensina-me.

Karla Mello
30 de Novembro de 2012