há muitas coisas que me emudecem.
algumas eu leio e vejo nos jornais.
emudeço também diante diante das interpretações:
sem contexto e fora do ritmo - sem tom.
sim... sobre mim mesmo que falo eu.
mas tão somente daqueles à quem despreendo amor.
entristece-me...
e não perco mais o meu tempo explicando nada.
há muito transformei-me numa espécie de espectadora
mas apenas diante do que interpretam sobre mim.
e essa transformação não exime-me da dor...
não sei se eu lamente... vou pensar sobre isso depois.
mas não deixa-me cínica.
emudeço diante de algo que rouba-me o ar
e usurpa-me as palavras... e responde por mim!
pior! escolhe por mim...!
como se fosse eu uma idota.
de fato, não conhece-me...
não sabe absolutamente nada para dentro de mim.
devo ser um jarro de mesa... só não percebem as flores.
tenho flores dentro de mim e também sei dizer não.
e sei escolher entre ir e ficar - sempre soube.
aprendi desde cedo... não por vontade própria.
e vem... "mete a mão" em tudo...!
e rouba-me os versos, as cores todas e tange as borboletas!
não gosto da maldade...
embora saiba ser má... sou humana.
mas ando afastando isso de mim também.
emudece-me... e calo-me de dor.
e já não aguento mais ser dois pés num só sapato.
sempre fica mais incômodo para um.
penso eu em desistir... e internar-me num manicômio.
devo ser "sem conserto"!
quem sabe, ser abduzida pelo buraco negro.
ou sentar-me na cauda de um cometa e nem pensar em voltar!
paciência... preciso comprar aquelas pilulazinhas de paciência...
as minha acabaram e já procurei, mas está em falta!
sinto-me emudecida para dentro e os meus lábios apenas batem.
sinto-me, de fato, deveras cansada de tudo.
não queira escolher nada por mim, por favor...
não depois de tudo o que já vivi eu.
já escrevo no escuro...
e nem necessito muita luz para guiar-me por aí.
eu não sei muito sobre muita coisa.
mas eu sei o suficiente sobre mim.

Karla Mello
23 de Setembro de 2012