Karla Mello

Amar pode ser poço... Amar nunca será vão.

.. Escreve a Florbela Espanca .. "Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver e que nunca na vida me encontrou"
Textos

Sonhos de Origami

eu queria te falar do meu amor
dos sonhos todos que semeei eu
nas noites nossas... becos tão estreitos
solidão mais que reluzente
à luz do nosso tão estranho amor
que surgiu como surgem todos os amores
do de repente das mesmas palavras sempre ditas
dos segredos e pecadinhos cúmplices
do acordar pensando e pulsando
na distância do toque e na quietude do encontro
na proximidade das almas e pensamentos.
eu queria te falar das minhas renúncias
dos laços que desatei ao partir em teu encontro
das lágrimas de saudades que plantei
e deixei para trás quando cri eu que poderia eu "existir"
do muito que te quis enlouquecidamente
da paz... eu nau e tu o meu porto
da escuridão minha na luz dos olhos teus
calmos... sempre com palavras de colo e eternidade
do meu olhar para trás ao ver de cima a minha "casa". E ir-me
do meu adeus a tudo e desbravei maldições todas
todas elas espalhadas sobre mim... e tantas falas e tantas pragas
e tantos julgamentos e exposição minha
sabes tu da coragem que tenho eu?
mas eu exponho-me sempre... eu escrevo, esqueces?
eu queria te falar das humilhações minhas
todas elas enquanto tu dormias o teu "sono" torpe
e das lágrimas que calei... e engoli o choro
apenas para ser levezinha a ti e te ver sorrir.
dos sonhos todos de papel dobradinhos em origami
e havia sim passarinhos e borboletas
pendurei-os todos no teto dos sonhos meus
e o arco-íris era o encontro dos nossos olhos
e o mundo poderia sim terminar ao encontrar-me eu em ti
ao repousar eu o meu cansaço sobre o teu repouso meu.
eu quero te falar da chuva minha... chove...
e que molha todos os meus origamis...
dobradinhos com tantos cuidados tolos
e que tu não cuidas, não cuidas...
e desfazem-se dias afora e não estás para perceber
eu queria te falar do teu toque que fazia-me sentir flor
regada de amores e farta de pólen... linda apenas a ti
desta mesma flor que pisas ao andares descuidado por aí
por entre as tuas coisas estranhas das quais não entendo eu
dos teus guardados e reservados que calas e nunca falas
dos sentimentos todos teus... exclusivamente teus.
és, então, incógnita à mim...
e pego-me olhando-te e tentando solucionar-te
e sinto eu a sensação da menina no ginásio de outrora
à frente de uma equação matemática que sempre soube eu não servir-me à nada.
eu sempre fui humana e nada exata...
e não acostumo-me com a tua exatidão para algumas coisas
e a tua complexidade à nossas vidas
outrora porto eras tu... hoje, nau perdido
e não sei onde reencontar a tua bússola
não... não está comigo.
comigo, o teu aconchego que não queres
o teu sorriso que também não queres
comigo a disposição de simplesmente estar sempre no mesmo lugar
na tua prateleira sentadinha e vestidinha tal as bonecas tolas
e nasci para tanto... para tão mais que isso...
eu penso, sinto, choro, repudio, peco, envergonho-me. E chove...
e chove tanto e não vejo ao perto uma marquise
e danço e canto na chuva e os meus origamis desfazem-se todos
tenho que dançar!
nuvens cobrem o arco-íris nosso e tu não as sopras para longe
e continua a chover e embaça-me a visão
gosto de tudo claro e de enxergar os abismos onde piso.
não... eu não vou refazer as dobrinhas dos meus origamis
esperarei sentadinha na tua prateleira empoeirada e de velhos pesadelos todos teus.
eles ficam sempre à minha volta e apertam-me
mas acenarei a ti de quando em vez...
quando sentir eu o desejo de ser tola
e estarei sempre a sorrir porque gosto de sorrisos
nem que seja à mim mesma... nem que seja de mim mesma.
nem que seja de todos os sonhos que esvaem-se... todos nossos.
eu sei... andas tão ocupado com os teus "ais"...
eu queria apenas te falar do meu amor.

Karla Mello
05 de Julho de 2012
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 05/07/2012
Alterado em 06/10/2017
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