A Quem Importar
Estive a olhar a água que cai pelo ralo enquanto banhava-me.
Veio-me o pensamento de que, Assim como aquela água que esvai-se Vão-se os segundos vividos… Os amores perdidos em cenas. Apenas cenas presentes e que, um dia, Esvaem-se como aquela água. Sem lamento… Sem respeito… Sem saudades. Saudades… Apenas sente-se daquilo que nos é extremamente egoísta. Daquilo que apenas a nós é bom… Sem muito importar o contexto. Nem a história… Nem o cenário… Muito menos o outro. O que entregar mais em nome de apenas uma cena? Uma cena. Tão sem importância depois de vivida. Posteriormente, apenas contada… Como algo que nunca sentiu-se sentimentos alguns. Algumas cenas vividas tornam-se patéticas. O tempo e a distância do vivido Proporciona esta estranha metamorfose. Outras são muito tristes… Mas, geralmente, Nada sentido ou traduzido por quem as narra. Sim, pois de quem doeu e entregou-se à dor Nada (nunca) vale a pena falar. É mesmo assim… De qualquer forma e de qualquer jeito. Cenas contadas por uma boca leviana qualquer. Sem som… Sem rima adequada… Sem tom… Sem nada. Então… Quando olho novamente para o ralo Que escoa a água que lava o meu corpo… Penso que não haverá quem quererá saber Se a mesma água arrasta lágrimas, Se tentei lavar a alma – embora impossível!... Se tentei apagar uma história doída… Sem sucesso. Ou se apenas quis limpar o resto cansado Do meu dia de trabalho. Será apenas "água escoando no ralo". Será penas mais um tempo que não volta. Será apenas mais uma cena… Acompanhada apenas pelos fiéis e frios ponteiros Do sempre indesejado relógio. Em ritmo com a água que escoa, Com tudo o que com ela segue... E não volta. Nunca mais. Karla Mello Agosto/2010
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 18/08/2010
Alterado em 14/01/2015 Copyright © 2010. Todos os direitos reservados. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor. |