Karla Mello

Amar pode ser poço... Amar nunca será vão.

.. Escreve a Florbela Espanca .. "Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver e que nunca na vida me encontrou"
Textos

Amor Sem Mim
Questiono-te
Rasgo o verbo e as vestes minhas
Despenteio minhas idéias todas
Sobre ti.
E choras tu comigo... Eu sei que sim.
E eu arrependo-me tanto e tanto...
E, na certeza do teu Amor sem fim,
Descanso no teu Amor...
Porque tu me criaste assim.

O que queres, então, tu de mim?!
Eu, teu ser medonho e arredio
Das trevas donde foste buscar-me à luz
Filha cansada e ingrata
Desgraçada e cega da tua tamanha graça
E Amas a todos os que gritam
Com fome e sede, o teu santo nome!
E os doentes da alma... Todos os loucos!
… Soltos no mundo – prantos - e não são poucos!
Lamacentos porcos e eu!

Mas como assim?!
E o que fizeram de mim?!
E o que eu fiz de mim?!
E o que eu fiz, nos outros, de ti?!
Mastigo tudo com o pensamento
Cheio de dentes e língua ferina
E faço de conta que esqueço.
Não engulo... Tento ficar menina
Com olhar perdido no tempo
Mas engasgo com a água do choro.
E vomito tudo o que é morno.

Agonizo com a companhia do lado.
Talvez seja até mais sincero:
Diz com a boca o que o meu silêncio não diz.
E eu tão cega e também só vejo à mim
E eu queria mesmo era retornar à tua casa
E no teu abraço, poder dormir.
Dá-me lucidez sobre a pequenez de mim!

Sou tua e centelha da tua luz
Que tu acendes com o teu Amor e iluminas
E cicatriza... Toda a dor é finda.
E afagas em meu peito a certeza
De que apenas tu não desistes de mim.
E se eu tenho o teu Amor para mim...
Do que posso sentir falta, enfim?!

Ensina-me, pai... Ensina-me...
Como se Ama sem se merecer
Assim... Como tu me Amas à mim.
Dá-me deste Amor lúcido e febril
Dá-me deste Amor pueril
Água da vida, pura de beber
Antes de eu enlouquecer...
Para que eu nunca mais sinta sede
Dos beijos e abraços ternos
Desses que não se quer nada em troca
E que nada se faz por merecer.
E que eu nunca, sequer, pude conhecer.
... Desses que tu me dás desde sempre
Mesmo que eu não sinta consciente.

O meu Amor, meu senhor, Tu sabes...
Será sempre imperfeito e mesquinho, deficiente.

Questiono-me.
| Perdoa-me, pai... |
Silencio o verbo e miro as vestes e a cruz.
Envergonho-me e enojo-me de mim.
E recomeças a arrumar as minhas idéias todas
Sobre mim.
Tu enxergaste algo em mim.
E o teu Amor ergue-me e me conduz, Jesus.

És o meu Amor puro... Singelo.
És o meu Pai e minha Mãe e tudo o que é vazio.
És o meu Amor ideal... Nunca tardio.
És o meu Amor sem mim.
És o meu amor sem fim.

Karla Mello
08 de Abril de 2017
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 08/04/2017
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