Karla Mello

Amar pode ser poço... Amar nunca será vão.

.. Escreve a Florbela Espanca .. "Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver e que nunca na vida me encontrou"
Textos

revisitando...
hoje eu vesti vermelho.
mantive a cara lavada e já me sinto pronta...
pra guerrear com a vida... entre partidas e chegadas.
logo que aqui cheguei abracei a minha irmã
e limpamos os pequenos vãos da casa dos nossos pais.
pequenos... pequeníssimos...
eu nunca pensei que pudessem ficar tão pequenos.
arrumamos tudo... eu e ela.
desarrumamos nós e lavamos tudo com água de choro.
encontramos perdidos... grandes achados.
batemos a porta... mudas.
não olhamos pra trás.
vi minha filha gestar e o meu neto nascer.
ainda não sei o que é mais belo:
o perfeito rostinho do meu neto...
ou a maternidade nascida de minha filha.
ambos tão belos... tão filhos.
... olho para trás e foi ontem...
ela nascida de mim.
e ele nascido dela que é nascida de mim.
e fico tão confusa...
fui vó.
e os meus filhos perderam o vô.
a mãe do meu neto perdeu o vô.
dessa vez, paterno.
uma tristeza só...
e as lacunas vão se multiplicando...
os elos das correntes, partindo.
e vamos nos agarrando aos grilhões-amor.
passamos pra ponta da fila.
eu estou na ponta da fila.
sou órfã... sou mãe e sou vó.
não sou mais filha... e sou filha do mundo.
e resolvi usar linguagem coloquial
só porque eu tô feliz... triste e confusa.
vim... fui vó... cuidei da filha... abracei os filhos.
chorei o útero de minha mãe...
e as tantas saudades de meu pai.
colhi novamente a minha flor amarela.
abracei o poeta.
gostaria de ter revisto alguns amigos... irmãos.
... um banho de mar e um milho verde quentinho... mastigar.
não deu... mastiguei espinhos.
debulhei alguns galhinhos...
e ajudei a montar um ninho.
submergi no meu estado de graça...
submergi - não deu.
abracei uma amiga muito amada... antiga.
ela sempre vem quando perco amores e fico órfã.
quando ganho amores e sou vó.
grande amiga... Deus a abençoe.
e nossa conversa é sempre tão hoje...
agradeci a Deus... faço as pazes então.
hoje eu vesti vermelho.
abracei o meu neto...
balancei o meu neto... e agradeci a Deus.
mas resolvi me vestir com as armas de Jorge.
... e as armas ocultas do bem...
de quem mais quiser me emprestar.
sou filha das águas... contorno e avanço.
e vou tornar a guerrear... erguida!
ah... não vim pra essa vida brincar...
com a vida! ... com a vida!

karla mello
14 de outubro de 2014
Karla Mello
Enviado por Karla Mello em 16/10/2014
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